Enfrento, e reconstituo os pedaços, a gente enfeita o cotidiano - tudo se ajeita.

domingo, 11 de dezembro de 2011

❝ Te cuida, dissera ele. E eu ouvi como se fosse um te amo. — Martha Medeiros


Ela é a mesma, só que mais esperta. E por mais amargo que seja, ele jamais mudará o sabor do doce.
— Fernanda Mello
Depois de vários romances sem fim, me apaixonei por mim mesma.
— Fernanda Mello
Parte de mim está sempre procurando por alguém que se vire para mim, me pague uma bebida, me dê um abraço e me diga que está tudo bem. Por que eu costumo descontar nas pessoas. Por dias eu fico insuportável, não consigo nem falar com ninguém. E isso me perturba, por que eu continuo fazendo isso. Eu quero estar sozinho, mas eu quero que as pessoas me notem - ao mesmo tempo.
Não posso evitar.
E eu sei que eu sou paranóico e neurótico.
Thom Yorke
Quer me conhecer? Me encontre naquele romance antigo, segundo parágrafo, mostrando que a solidão não deve se atravessar a sós. Talvez eu possa – e isso é quase certo – me mudar pros tons daquela bela música e por lá ficar: “feita de luz mas que de vento”… Ah, me desculpem os Jungs, Freuds e Lacans. Mas Chico Buarque me entenderia! Alguns artistas – e nisso incluo poetas, músicos e demais sonhadores – parecem conhecer a fundo a alma humana. Quando falam de si, mostram um pouco também de nós. Quem nunca pensou, ao menos por um segundo: essa canção foi feita pra mim? Eu já me apropriei de centenas de músicas (com o devido crédito ao autor, é claro), que dizia serem “minhas”. Naquele momento, elas – e só elas – pareciam entender o que eu sentia. Letra por letra. Rima por rima. Em cada nota, um espanto. E uma sensação de pura comunhão com o mundo: é, eu não estou sozinha. A arte também foi feita pra unir. Pra protestar. Para seduzir. Por isso, passo a vida escrevendo. Lendo. Garimpando frases. Buscando o verso certo. A estrofe perfeita. Ou um conhecimento maior sobre mim mesma. Se estou conseguindo? Não sei. A arte nem sempre é bondosa. Um dia nos pega no colo e, no outro, nos faz enxergar o que ainda é difícil de ver. Mas tudo bem. Enquanto houver um poema pra nos consolar e uma boa canção pra nos comover, “a gente vai levando”.
— Fernanda Mello

Todo mundo quer ser legal, e todo mundo se ferra na empreitada. É difícil ser legal o tempo inteiro. A gente consegue ser legal a maior parte do tempo, mas aí faz uma besteira e pronto: tudo o que você fez de bom é imediatamente esquecido e você se torna apenas aquele que fez a grande besteira. Aí você precisa de mais uns dois meses sendo exclusivamente legal para todo mundo esquecer da besteira. E quando eles esquecem, você faz outra, claro.
Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.
''Porque nosso mal é este: pensar demais. Nós, as reconhecidas como sensíveis e afetivas, somos, na verdade, máquinas cerebrais. Alucinadamente cerebrais. Capazes de surtar com qualquer coisa, desde as mínimas até as muito mínimas. Somos mulheres que nunca estão à toa na vida, vendo a banda passar, e sim atoladas em indagações, tentando solucionar questões intrincadas, de olho sempre na hora seguinte, planejando, estruturando, tentando se desfazer dos problemas, sempre na ativa, sempre atentas, sempre alertas, escoteiras 24 horas''
Eu sinto falta do que um dia eu fui.
Nunca havia se sentido assim, vendo o vazio em tudo que existia, não conseguindo enxergar vida em nada, se é que conseguia sentir que tinha vida. Já se passavam das onze, o sono ainda não tinha chegado, podia sentir a brisa bater nas suas pernas que não estavam cobertas, era dificil entender o que estava mais frio, por fora ou por dentro, fingindo ser forte, fingindo ter um sorriso verdadeiro, quando na verdade está desmoronando. Com o passar do tempo as cobranças só aumentavam, o medo de decepcionar também, o medo de se pegar chorando sozinha também, o medo de ser sozinha também. No fundo disfarçava todo esse medo saindo, bebendo, curtindo, mas sozinha? sozinha era vazio, mas se considerava feliz, quando não pensava nas coisas ruins. Ate que ponto vale se esconder atras de um sorriso, de um sorriso que de longe pode parecer real, mas de perto, é frio, amargo, e só. Ela se se via presa, esperando aquele Deus, finalmente a libertar.